quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Os mesmos erros

Tem mil coisas nessa vida que eu queria saber, mas se tem uma coisa que eu queria saber muito é por que a gente se preserva tanto do amor depois que cresce?
Tá, eu até tenho meia dúzia de repostas plausíveis pra mim mesma, mas mesmo assim, se tem uma coisa que faz meu coração e minha mente se chocarem violentamente é essa coisa da gente se fechar, dificultar tudo, criar barreiras e tal. Limites estratosféricos pra jiraya do relacionamento dar certo e ser saudável.
Claro que quando a gente tem seus 16 anos amar parece mesmo muito simples, e é claro que depois de alguns belos capotes, arranhões e cicatrizes, a gente começa a ficar mais esperto no que chamam de amor. Não se abre pra qualquer um, fica mais seletivo, mais crítico e mais limitador. Tudo é limite.
Tudo bem até acho isso saudável, mas a gente e quando digo a gente, digo porque eu também faço isso, tem uma lazarenta mania de achar que vai repetir os mesmos erros.
Então, quando a gente começa um relacionamento, a gente coloca todos os sentimentos numa tabela do Excel, compara com a tabela anterior, faz um balanço pra ver onde que erramos e o que temos que fazer pra dar certo.
A gente fica miguelando sentimento porque o último filhodap**a que passou pela nossa vida não deu valor pra gente, então, com o próximo a gente vai fazer isso, vai se conter, vai se fechar, não vamos repetir os mesmos erros.
Não, não vamos mesmo, só vamos cometer erros novos!
Queria saber em qual livro que tá escrito que amor é matemática, que amor é estatística, que a fórmula para o amor feliz e pleno está em a gente fazer um mega balanço de todos os nossos relacionamentos anteriores, colocar os erros na balança, medir as ações e tirar uma média pra saber como agir! Queria saber mesmo porque eu também sou mais uma desgraçada que fica se comedindo porque tem medo de agir errado como da outra vez!
Quais a chances da nossa super mega estatística dar certo?
Se amor fosse ciência vendia em potinho, em gotas ou comprimido. Seria ótimo, né?
Não, não seria...
Até quando a gente vai ficar poupando saliva, sorriso, cheiro, até quando a gente vai miguelar abraço, segurar o beijo, conter aquela vontade louca que dá de ligar no meio da noite só pra ouvir a voz do outro, PORQUE TEMOS QUE SER PACIENTES, PORQUE TEMOS QUE DAR TEMPO AO TEMPO, PORQUE NÃO PODEMOS SER IMPULSIVOS E COMETER OS MESMOS ERROS?! Até quando?
Não tô falando que a gente tem que meter o pé e sair fazendo o que der na telha. É claro que eu concordo e acho que a reflexão de nossas atitudes é um passo muito saudável pro nosso adiantamento como pessoas mais esclarecidas, que quando a gente se conhece melhor, consegue conviver melhor com os outros e tal. É claro que temos que refletir nos nossos erros e acertos, não tô fazendo apologia ao Carpe Diem sem limites.
Mas até aí a gente ficar achando que tudo vai ser sempre igual, que porque eu fiz de um jeito com uma pessoa X se eu fizer com Y vai dar errado do mesmo jeito? Não dá, Braseel...
Graças a Deus as pessoas são diferentes sabe e você nunca vai saber se vai dar certo ou errado se você não tentar...Bem clichêzão e bem verdade. Vamos encarar os fatos.
Porque enquanto a gente fica pensando em não cometer os mesmos erros, na verdade estamos cometendo o mesmo erro de sempre...
Nessa a gente vai podar a mágica do inesperado, a beleza da sinceridade dos atos, a luz que emana de nós quando fazemos algo pelo simples acreditar que aquilo vai dar certo. 
Vamos vivendo como máquinas, comedidos em tudo, dosando, absorvendo do outro doses homeopáticas de um amor rarefeito, quando na verdade, tudo o que a gente queria mesmo, era morrer de amor só pra continuar vivendo.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Sobre a Mulher Banana, desmaios e a sutil diferença entre homens e moleques

Esse final de semana recebi, carinhosamente, o apelido de Mulher Banana. E vindo de quem veio, só podia ser carinhosamente mesmo.
Sou uma banana. Mas daquelas bananas que não gosta de ver filme com muito sangue, tem medo de escuro e desmaia em ambientes quentes e lotados.
Já desmaiei na Basílica de Aparecida, na balada X,Y,Z, no metrô, enfim. Sou uma banana mesmo. Baixou a pressão pode me segurar que eu vou cair. Sou tão manjada nesse assunto que quando minha visão escurece eu até aviso "me segura que vou desmaiar". Simples assim.
No paradoxo da visão escura e da falta de sentidos, não tive como fugir a comparação que está martelando na minha cabeça desde então. A linha tênue, a sutil diferença em ter um homem e um moleque ao seu lado na sua vida.
Na vida mesmo, colega, não apenas na hora do desmaio.
Porque a vida é composta por N desmaios se formos pensar metaforicamente.
Quantas vezes a gente não perde os sentidos, a razão, a vista, mesmo acordada?
Quantas vezes a gente não sente que vai cair e sente medo de não ter alguém pra segurar?
Quantas vezes a gente não se sente frágil e desorientada no meio da multidão?
Quantas vezes você não acorda de um "desmaio metafórico" e pensa, "cara, por que eu acreditei nisso?"
Pois é... A vida está cheia de desmaios, perdas de sentidos, fraquezas inesperadas. Porque mesmo me conhecendo, eu ainda tinha esperança de sobreviver na famigerada balada de sábado. Eu tava bem, bem acompanhada, tudo tranquilo, mas ah, a vida adora testar a gente. Cinco minutos no meio da muvuca e minha pressão se jogou de bungee jump dizendo "Au revoir!".
E num momento como esse, se você tiver um moleque ao seu lado, chore. Porque moleques não sabem reagir em situação de perigo, moleques não sabem como lidar com uma pessoa sem sentidos e que precisa deles pra se recuperar. Eu já tive a infeliz experiência, há algum bom tempo atrás, de desmaiar e ter que depender do auxílio de um moleque, e que sinceramente, se tivesse dependido no real sentido da palavra, tinha acabado da pior maneira que posso imaginar, porque além de me largar sozinha, comprar apenas uma miserável água, porque eu pedi pelo amor de Deus, ficou com ciúmes do outro filho da puta que tava tentando me xavecar, enquanto eu não enxergava um palmo na frente da minha mão!
Isso mesmo, minhazamiga, além do moleque frouxo, existem espécies de moleques que são tão incapazes que conquistar uma mulher, e que se aproveitam de um momento de fragilidade delas, porque imaginam que elas estão bêbadas e tentam ficar com elas. Mas eu não estava bêbada e ainda tive que me virar nos 30, sem conseguir me deslocar de onde estava até a saída da porra da balada.
Mas, quando você tem um homem, homem mesmo, pode ficar tranquila, pode desmaiar que nem uma lady, pode cair que nem uma banana, tipo eu, que ele vai cuidar de você. Ele vai te carregar, mesmo que você seja "pesadinha" como eu, rs, vai ajudar você a recuperar os sentidos, vai te proteger dos filhosdaputa e dos enxeridos, vai cuidar da sua integridade física, vai te acalmar, vai te aconchegar no peito dele pra você respirar fundo, não vai ter nojinho se você vomitar, vai comprar coxinha da Real pra você, mesmo que você não coma e no fim, vai fazer você se sentir a pessoa mais especial mesmo com todo seu aparente vexame.
Porque ele não se importa com isso, ele se importa com você e é aí que mora a diferença. É claro que no dia seguinte ele pode te dar o apelido carinhoso de Mulher Banana, Bananinha, mas depois de tudo, até que ele tem crédito, rs...
Por isso, olha bem pro cidadão que tá ao seu lado, pensa bem, porque é na hora do aperto que a gente conhece as pessoas, e eu tenho certeza que se um dia você desmaiar, em qualquer sentido que seja, figurado ou real, você vai querer que alguém te segure, mesmo que no dia seguinte ele sorria pra você aquele sorriso lindo que só ele tem, te abrace e diga "Minha Mulher Bananinha!".

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Vitória Régia

Lembrou-se do reflexo da Lua visto do pier. De como ela parecia valsar nas águas tranquilas, bem lá no fundo, quase como um convite ao desconhecido. Lembrou-se da história de Naiá, que sua tia lhe contava sempre, quando ainda era uma menina. Dizia fazendo vincos pelo rosto marcado pela idade e pela bondade de sua alma:
- Sabe, fia, Naiá era uma índia muito linda, a mai bonita de todas. E quando ia pra beira da lagoa, era pra namorar a Lua. Achava que a Lua era um guerreiro que morava no céu, fia...
E lembrou cada detalhe da lenda da Vitória Régia, depois ficou pensando que a vida devia ser como a vida de Naiá. É claro que a índia teve um final meio trágico, mas ao renascer como uma flor, pensou que isso simbolizava, de uma certa forma, um desabrochamento para vida de verdade.
Tínhamos que mergulhar nas águas do desconhecido em busca de algo para nos encontrarmos.
E Indira tinha que mergulhar naquelas águas. Tinha que ir de encontro ao reflexo da Lua. Não porque acreditasse que era uma ilusão, mas queria ser uma estrela da água, queria deixar seus cabelos afundarem devagar e ceder as mil e uma gotas. Queria molhar a pele clara e tiritar de frio, sentir a barriga encolher e as costelas ficarem mais evidentes por isso.
Não queria passar a vida olhando o reflexo da Lua na água, pensando como seria dissipar aquela imagem, como seria mergulhar de encontro a ela. Não queria passar a vida evitando tudo porque o medo poderia retê-la na superfície.
Não dá, Indira, não se pode viver a vida com tanto medo de tudo.
Indira tinha que ser Naiá. Levantou-se e pegou as chaves do carro. Dirigiu meia hora e bateu ali. Dois minutos e ele abriu.
- Di? O que você tá fazendo aqui uma hora dessa?
- Oi...Desculpa chegar sem avisar, eu não quero ser invasiva nem melosa, mas eu tava pensando em você e decidi passar aqui, queria te fazer um convite.
- Convite?
- É..
- Diz!
Ele sorriu. E todos aqueles dentes bem alinhados e perfeitamente brancos faziam lembrar o brilho da Lua. Aquele brilho que ela se encantou e a fez pensar que Indira tinha que ser Naiá e de repente ele era a Lua. Iluminou-se por dentro com o sorriso dele. Abriu um sorriso bem dela e disse:
-Vamos nadar lá no lago?
- Agora?
- É, eu queria tanto te mostrar uma coisa.
Ele sorriu, quase como que se entendesse o que ela queria dizer.
Eles foram juntos, quase sem falar, e a Lua, em sua majestade, iluminava a estrada. Em pouco tempo chegaram. Ele tirou a camiseta, ela puxou-o pelas mãos enquanto caminhavam lentamente em direção a Lua no lago.A noite estava muito quente. Ficaram quietos até que as marolas que seus corpos fizeram em contato com a água desaparecessem.
- Olha...
- Nossa, parece que ela tá aqui.
- Mergulha comigo?
E de mãos dadas eles afundaram nas águas escuras em busca da Lua. O reflexo se desfez com a agitação dos corpos que eram banhados pelos raios de prata da confidente dos poetas e inspiração dos apaixonados. Quando subiram, aproximaram-se. Ele a beijou e minutos depois ela sorriu:
- Foi assim que Naiá se apaixonou pela Lua...


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Vem, garota...

Vem, garota, que agora já chegou.
Você já deu tempo ao tempo, o passado já esfriou.
E aí, garota, tá esperando o que?
Talvez ele não tenha um cavalo branco, talvez chegue de busão, mas e daí, garota, o que você tem pra oferecer?
Abre seu coração. Caia nessa lábia, entre nessa dança, tira o medo, o embaraço e o soutien. Que mal tem querer ser feliz também?
Vem, garota, mas vem correndo de verdade!
E se você cair, levanta!
E se machucar, sara!
E se doer, passa!
Tudo passa, garota, leva tempo mesmo, mas que tempo mais que você quer? Deixa essa bobeira de relógio pra lá.
Os meses, as semanas, os dias. E se ele fizer valer a pena tudo isso?
Como que você vai saber se ele tá falando a verdade se você não tentar acreditar? E como você vai sentir que ele tem pegada se você não se deixa pegar, enroscar, envolver, sentir. Os poros, os pelos, as pernas. Mas sobretudo, garota, o coração.
Deixa o coração duvidar, deixa ele acreditar, mas deixa ele ser coração! Esse é o papel dele!
 Coração que bate acelerado, que quer sair pela boca, se atirar no colo, ouvir música melosa e acreditar de novo, e de novo, e de novo. Quantas vezes forem necessárias, possíveis, prováveis e improváveis...
Abra seu coração, garota...
Deixa ser...
Vem, garota! Vem que a vida não espera!
E você tá esperando o que mesmo?
Ah tá. Então larga essa bolsa na mesa, deixa os papéis no canto, tira esse brilho de tristeza, põe um brilho nos lábios, sente o cheiro da noite, escuta o que ele te diz, fecha os olhos pra respirar, diz coisas que você quer.
Porque todo mundo vai falar de tudo. Vai falar se você quiser, vai falar se você não quiser. Todo mundo fala o tempo todo. Você vai deixar eles decidirem por você?
Vai ser conduzida por eles, pelo medo e pela sua tristeza acorrentada?
Deixa tudo pra lá. Deixa as estrias, as celulites e tira esse vestido. Deixa que vejam sua beleza, vem nadar nas águas das vida! Mergulha fundo como sereia, brinca com os peixes, abre os olhos na água doce, deixa o rímel borrar.
Vem, garota...
Vem sorrir pra vida...
Vem você também....

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Joca

"Era muita ingratidão" pensava enquanto caminhava pelas ruas agitadas, chutando o chão, revoltada com os últimos acontecimentos.
Ninguém valorizava suas ideias, seu intelecto e agora, como se não bastasse ter sido quase demitida, tinha levado um pé na bunda daquele arquiteto mal resolvido e descobrira que a amiga estava trocando whatsapp com ele.
Queria ver todos eles amarrados juntos, a beira de um vulcão, onde ela, rainha dos Maias, os sacrificaria em prol da sua paz de espírito. Ele, ela, o chefe, as amigas falsas, todo mundo. Ninguém prestava naquela cidade ordinária, todo mundo era ruim. Enquanto resmungava por dentro, teve a atenção tomada por um vuco-vuco no sinaleiro mais próximo.
Carros desviavam de um pobre vira-lata, ainda pequeno, que muito perdido, estava na iminência de morrer atropelado pelo próximo desavisado que não percebesse o cachorrinho no meio da rua.
Como se sua vida dependesse daquilo, jogou os cadernos e a bolsa no chão e correu na direção do pequenino.
Sentiu o calor da moto passar pelas costas, as buzinas e os motoristas que se agitavam gritando "sai daí, sua maluca!".  Havia acabado de alcançar o cãozinho, quando um Fiesta veio em sua direção. Agarrou-se ao pequeno vira-lata enquanto murmurava suas últimas palavras, "Eu te amo, Joca!".
A rua toda ouviu os freios, enquanto ela, agarrada na nova razão de sua vida, fechava os olhos evitando ver a colisão evidente de seu corpo com o Fiesta ensandecido.
Um multidão se fez em volta dela. O motorista desceu do Fiesta, com belo sotaque paulista que tinha, gritando.
- Você tá maluca, garota?
Ela abriu os olhos e viu aquele monte de gente em volta dela, o cãozinho no seu colo, com o coração mais acelerado que o seu e o seu quase assassino, como assim pensou, na sua frente.
Levantou-se com a ajuda dele que perguntava a todo tempo se ela estava bem.
- Entra no meu carro, vou levar você num hospital.
- Pode ser um hospital veterinário?
Ele olhou pro cãozinho no colo dela e disse.
- Claro, vai, entra logo que tá todo mundo buzinando.
Ela recolheu as coisas com a ajuda de um estranho e entrou no carro dele.
- O que aconteceu, seu cachorrinho fugiu?
- Não. Ele tava perdido no sinaleiro, ia ser atropelado e eu fui salvá-lo.
Ele sorriu.
- Então você é dessas malucas protetoras dos animais?
- Não. - ela franziu o cenho - Eu só me apaixonei pelo Joca, foi amor a primeira vista.
- Amor a primeira vista... Você acredita nessas coisas?
- Claro!
- Que bom.
Foram até o hospital veterinário mais próximo e enquanto ela caminhava em direção a sala com Joca no colo, ficou observando quão linda era a maluca protetora dos animais.
Seus longos cabelos escuros, levemente encaracolados, com um resto da última tintura nas pontas, andar suave, olhos azuis e intrigantes faziam-no pensar no que o fizera desviar a rota do trabalho e quase atropelar a moça e seu cachorro num sinaleiro da Liberdade.
Entre suas meditações, uma hora e meia havia passado. Saíram de lá eram quase oito da noite. Ela, ele e o Joca, que agora dava lambidas apaixonadas na sua dona e no seu dono, segundo o cãozinho pensava. Levou-os até o apartamento dela e ela sorriu sem graça quando o carro parou.
- Acho que eu lhe devo desculpas e um muito obrigada. Você não quer subir fazer companhia pra gente? Íamos jantar sozinhos.
- Você ia jantar sozinha, né?
- Se não tivesse encontrado o Joca, sim...
- Então, pode por mais água no feijão.
- Não como feijão, pode ser hamburguer?
Ele sorriu enquanto desciam. Ela olhou nos olhos do cãozinho que amorosamente lhe dava beijos, como um sinal de gratidão eterna por ter salvo sua vida. Gratidão, era tudo aquilo que ela precisava naquele dia. E ao mesmo tempo, sem que ela soubesse, em pensamento, ele agradecia aos céus por ter desviado sua rota de trabalho naquele dia.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Offline

Eu não quero um amor que me mande um email grande, de letras miúdas dizendo da minha importância na vida dele.
Eu não quero um amor que me marque numa foto pra todo mundo ver que estive com ele, ou um aplicativo que mostre que estivemos juntos em qualquer lugar do Brasil e do mundo.
Eu não quero um amor que faça meu celular piscar freneticamente me perguntando se almocei, se dormi, se morri.
Eu não quero um amor que me mande mensagem dizendo que sou linda, cinco minutos depois de termos deixado o mesmo ambiente se ele não teve coragem de me dizer isso quando estava ali, bem na minha frente.
Eu não quero um amor que tenha os dedos agitados no celular, que converse comigo todos os dias sem ao menos ouvir o tom da minha voz, sem perceber que depois daquelas palavras eu poderia estar com voz de choro, triste ou acuada. Sem ao menos perceber a decepção nos meus olhos, sem perceber que minhas mãos agitadas e que o movimento constante que me faz cheirar meu cabelo quer dizer alguma coisa.
Eu não quero um amor que exista apenas nas telas do celular, do computador.
Porque eu não sou um android. Eu não sou um aplicativo da Apple pra um Iqualquercoisa. Eu não sou uma máquina, eu não sou um contato do celular, uma foto bonita no facebook, no Instagram, em qualquer lugar digital.
Eu sou uma pessoa. Pessoas dessas de verdade. Que tem um celular e um computador, mas que existe antes deles e vai continuar existindo sem eles.
Pessoa de carne, osso, gordura, estria, celulite, cabelos, que ora parecem revoltados, mas serão os mais macios que você poderia encostar na sua vida.
Eu não tenho botão de desliga. Nem de mute. Falo muito mesmo e talvez não saiba a hora de ficar quieta.
Eu não tenho conserto. Tô tentando me aprimorar de outras formas, mas eu não conheço nenhum especialista que se atreveu a apertar meus parafusos.
Não dá pra você me reiniciar. Tudo que a gente faz pros outros fica, de alguma forma, guardado. Mas não é num cartão de memória que você pode fazer uma limpeza nele e já era.
A máquina humana, e eu detesto essa definição, é muito mais complexa do que o último IOS que a Apple lançou.
E eu não vou me render a vida digital e muito menos a um amor virtual. Eu preciso de amor, de amor de verdade, de gente que tenha poros abertos, coração batendo, pele quente ou fria, talvez seca, olhos que pisquem a todo instante e um corpo que se movimente mesmo parado.
Eu preciso sentir a circulação do sangue, eu preciso ver a movimentação dos músculos no sorriso. As suas articulações, juntas, juntos.
Preciso ver defeitos e ressaltar a beleza nas coisas simples. Eu preciso de um colo quente nos dias frios. De uma palavra suave nos momentos de explosão.
Eu preciso do timbre da voz, da expressão do rosto, dos olhos, do retorcer da boca se lhe desagrada algo ou dos dentes que surgem quando algo lhe agrada.
Eu não quero só mensagens fofas, eu quero ouvir da boca de uma pessoa que fala, anda, se agita e tem hálito de chiclete, de comida, de qualquer coisa, me dizendo, olhando nos meus olhos, o quanto eu significo pra ela, ou do quanto essa roupa fica melhor em mim, ou simplesmente ver no rosto dela o quanto ela gosta de mim quando eu simplesmente sorrio.
Eu não posso, não quero e não vou seguir gostando de uma figura imaginária que existe atrás de um contato do meu celular. Porque quando as pupilas se contraem e dilatam, frente a frente, daí a gente vê quem é quem.
E sms, whatsapp, email, inbox, não existe nada que vá mudar esse contato olho no olho, pessoa a pessoa que existe quando a gente encontra alguém. E não vai adiantar se esconder numa foto bonita ou numa postagem legal, num comentário romântico ou numa mensagem de "to com sdds", porque o que a gente é de verdade não é só aquilo que a gente faz atrás das telas, mas somos muito mais aquilo que fazemos na vida, olho no olho, cara a cara.
A vida virtual é importante, não sejamos hipócritas. Quem é que não gosta de mensagens fofinhas? Mas o que eu quero dizer é que só isso não basta! Amor não é um arquivo que a gente faz download e deleta quando quiser!
E eu não quero um amor virtual!  Eu quero um amor de verdade! Mas só pra constar, pra você, eu tô offline.



sábado, 9 de fevereiro de 2013

Primadonna

Tô sorrindo aquele sorriso falso, o mesmo que eu sorri pra você naquele dia que te vi da última vez.
Eu sou uma mera expectadora da sua vida enquanto você se esquiva da minha.  E eu assisto você curtir as fotos no facebook de todas aquelas meninas de cabelo mais falso que o meu sorriso, que eu poderia chamar de vagabundas, mas na verdade, quem eu deveria pensar em xingar aqui é você.
Mas eu não vou xingar, mesmo que o meu coração insiste em vaiar a sua atuação. É tudo muito simples pra quem não se envolve, pra quem não se entrega, pra quem não se dá o direito de viver assim, de cabeça, mergulhar, como eu quis fazer com você. Como eu fiz por você...
Pra mim tava sendo muito difícil me abrir de novo pra alguém, mas pro seu sorriso, o seu maldito sorriso, parecia extremamente fácil querer amar de novo. Me apaixonar e enfim, me libertar.
Mas a sua indiferença me aprisionava dia a dia num mar de dúvidas e aquele beijo no rosto...Por que você me beija no rosto? Eu não quero ser sua amiga. Nunca quis. Amigos não entrelaçam os dedos nos cabelos das amigas, trazendo-as mais perto, enquanto respiram o mesmo ar, roubando oxigênio um do outro, roubando a vergonha, o medo, o pudor.
Eu não viajei até lá, não me sentei ali, não me vesti daquele jeito porque eu queria ser sua amiga. Não é esse papel que eu quis pra mim quando sorri pra você.
Eu sou péssima atriz. Eu não consigo fingir ou simular, atuar num papel que não condiz com a verdade que eu quero pra mim, pra nós.
Eu era a Primadonna. Eu queria ser a Primadonna. Pra sempre, sua musa soberana, enquanto a gente aplaudia o esplendor da vida por ter feito essa maracutaia toda pra gente contracenar nos palcos do amor, juntos.
Mas, na minha ópera, você gaguejou. No meu recital você desafinou, tirou seu corpo, entrou pra coxia, não soube enfrentar a multidão nervosa que veria você me dar um beijo na boca e então, me beijou no rosto. De novo.
Então o teatro ficava vazio, dia após dia, enquanto eu fazia a mãe, a filha, a irmã, a amiga. Contracenava sozinha, gesticulava pro nada procurando Deus, porque talvez só Ele me entendesse.
Sabe, talvez eu tivesse encenado todos os papéis se você estivesse comigo no palco. Eu sei dançar, eu canto bem. Eu seria a Primadonna. Era pra eu ser a Primadonna.
Na minha peça eu te dei o papel principal.
Mas você não quis ser meu galã. Você negou James Dean. Você não quis ser meu amor.
Quero só ver quem vai comprar os ingressos desse romance sem final feliz.
Eu me levantei da cadeira, com os olhos cheios de lágrimas, um coração espremido no peito. As cortinas se fecham enquanto eu saio. Eu não vou mais aplaudir você.
C'est fini.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Chuva

Ainda chovia quando saiu do trabalho. As gotas grossas que caíam do céu encharcavam os transeuntes que ousavam sair sem guarda chuva, julgando que era uma garoa passageira.
O ponto estava lotado, mentalmente ele procurava um lugar debaixo do toldo, antes de atravessar a rua e chegar até lá.
Escondeu a cabeça com o casaco, atravessou no sinal amarelo, quase foi atropelado por um motoboy e finalmente chegou num pedaço do toldo reservado a ele.
Não queria olhar as pessoas nem ter que sorrir forçado pra qualquer desconhecido que lhe dissesse "que chuva!". Era óbvio que estava chovendo, era óbvio que estava molhado e nenhuma conversa num ponto de ônibus podia ser agradável naquela circunstância. Passaram três conduções lotadas. Na quarta se aventurou a entrar e quase perdeu um pedaço da jaqueta na porta. Foi amontoado no meio da multidão, que buscava um lugar pra se segurar.
Tudo aquilo o incomodava, apesar de estar deveras acostumado a essa rotina de chuva. Mas nesse dia especificamente, incomodava mais. Algo doía que não as gotas da chuva, parecia que o céu chorava e ele se sentia triste. O trajeto até o ponto próximo da casa durou quase uma hora e meia. Quando desceu, enfiou o pé numa poça de água suja e saiu esbravejando por dentro a maldição de ter esquecido um guarda-chuva. Chegou em casa pingando, escorregou na porta do elevador de serviço, comumente usado por todos condôminos nesses dias. Olhou-se no espelho e desviou o olhar. Não queria olhar pra ninguém.
Entrou em casa, arrancou a roupa, e foi pro chuveiro. Um banho quente certamente lhe traria paz.
Mas embaixo da ducha, com a água a lhe esquentar os poros arrepiados, ainda sentia algum incômodo. Pensou um pouco, sentiu-se triste, talvez fosse a chuva, o tempo. Ele detestava dias cinzentos.
De repente, entre divagações sobre a vida, o trabalho e os dias, uma dor aguda fez-lhe conter a respiração. Mas não era dor no corpo, dor no peito, era dor na alma. Daquelas dores que só as agulhadas da saudade são capazes de provocar. Dor sufocante, que prende choro na garganta como uma pedra pra depois cuspi-lo em desespero.
Começou a chorar quando lembrou-se dela. Fazia dias que não se falavam. Ela era muito certinha, queria uma resposta e ele não sabia bem ao certo o que era tudo aquilo. Sentia-se inseguro, mas como expressar, como dizer?
Não pensou que a figura dela fosse lhe provocar tanta tristeza e esse misto de sentimentos intraduzíveis e incoercíveis que debandavam da sua alma para os olhos.
" Eu queria mesmo dizer que vou conseguir, mas eu não posso viver assim". A imagem dela dizendo essas palavras soavam como apunhaladas dadas por ele mesmo no próprio coração. A rotina, a vida, os amigos, a distância e as outras mulheres apagariam a imagem dela em semanas. Mas, de repente, ele descobrira que ela era mais importante do que a importância que ele havia dado a ela desde que se conheceram.
Miriam. Como se apresentava linda agora diante de seus olhos cobertos por lágrimas. Sentiu frio no corpo mesmo debaixo do chuveiro quente. Será possível a gente descobrir que ama alguém assim?
E por que tinha sido depois? Porque não lhe dera valor, amor, porque não a reteve em seus abraços, em seu abraço, em sua cama enquanto ela cruzava estradas, mares e vencia o amor próprio ferido por ele, para encontrá-lo, porque ainda não se dava por vencida, mesmo diante de tanta insegurança e falta de resposta.
" Não desista de mim, Miriam..." pensou alto durante o banho. Quase uma semana sem falar com ela, talvez ela ainda o quisesse ver.
Saiu do banho sem tirar o sabonete do corpo como deveria. Se enxugava enquanto pegava o celular.
"Nunca liguei pra ela..." pensou com algum remorso. Mas arriscou.
Ligou e o coração parecia que ia se lançar e segurar o telefone, dizendo " Miriam, atende logo, fala comigo, por favor!".
Mas o telefone chamou, chamou, chamou e quando ele já se dava por vencido, fez-se ouvir uma voz.
- Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens...

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Carta para Madá - Sobre sereias, barcos e o (a)mar

" Madá, eu queria estar mais perto pra ver nos seus olhos tudo aquilo que você me escreveu. Eu poderia dar uma resposta mais objetiva e sincera se eu visse a confusão nos seus olhos, se suas pupilam se dilatam e se contraem, como uma menina tímida, enquanto você fala dele, se você, enquanto se perde quando fala dele, faz aquela cara e diz " eeee...". Se você vai alcançar o horizonte com seus olhos em busca de respostas que você nem sabe as perguntas.
Sabe, Madá, fazia tempo que eu não via você apaixonada. Aliás, achei mesmo que você estivesse apaixonada e abri um largo e dentado sorriso quando li suas cartas. Talvez seja o amor grato Madá, "com sabor de fruta mordida" como ele disse um dia.
Mas depois parece que a fruta ficou marrenta, você ficou amuada e senti falta de não ser seu colo amigo, levar você pra tomar um gigantesco sorvete, depois comer churros, caminhar e dizer " Oh, Madalena", enquanto você me diz "Di, na próxima vida vamos vir melhores maridos, não melhores amigos?!"
Imaginei que você tivesse chorado enquanto olhava para as estrelas, pra um céu a noite, ou num crepúsculo qualquer, perguntando aos astros da noite se eles foram testemunha do seu amor, do porque de tudo isso, enquanto seu suspiro me alcançaria e eu pediria a minha Iemanjá pra cuidar docê, nega.
Ah, minha molecona levada, minha mulherona com sorriso de menina, como você deve ter chorado com a aparente indiferença desse cidadão. E como eu quis grudar ele pelo colarinho e dizer "irmão, você vai perder a mulher mais sensacional da sua vida". Mas eu me acalmei, né Madá, no frio de Zurique não posso fazer muita coisa por você.
Depois da sua última carta, confesso que fiquei numa louca expectativa pra saber o que tinha acontecido, como um lunático pela sua série de TV preferida, eu estava me divertindo e sofrendo com as suas histórias. E elas dariam um livro, né? Sei que você vai torcer o nariz quando ler isso porque você me disse uma vez "que culpa eu tenho se eu me arrisco a nadar no mar, enquanto eles ficam esperando o amor no porto?"
É, Madá, você é a sereia mais corajosa que já conheci.
Confesso que nessa última carta, eu queria mesmo ver você, olhar no fundo desses seus olhos imensos e devoradores de alma, como sempre digo, e ver o que há atrás dessa história.
Sabe, Madá, a vida não é tão fácil. Sereias enfrentam grandes ondas todos os dias e por vezes, o tédio das marolas e da calmaria.
Talvez, Madá, ele tenha pisado naquela plantinha que você regou. E talvez ela não cresça mais. Talvez ele não seja mais tão bonito, e enquanto você olhava pra ele, as cores vibrantes que antes eram todas só dele se misturaram as cores da multidão.
Sabe, Madá, tem gente que faz a diferença, mas tem gente que não quer fazer.
E talvez pela indiferença, a sereia percebeu que talvez seja melhor abandonar o navio, antes que ele afunde.
Sinceramente, não me preocupe se o navio afundar, Madá, porque você sabe nadar como ninguém. Já sobreviveu a naufrágios e hoje é a capitã do seu coração.
Talvez, ele seja um marujo atrevido, mas que quer descer no próximo porto da ilusão...
Mas talvez seja a hora de ser paciente, dar tempo ao tempo, e quem sabe, o marujo atrevido seja aquele que vai lhe ajudar a conduzir o leme do coração para os caminhos seguros do amor?
Sabe, Madá, sinto sua falta, minha sereia, minha amiga, minha irmã do coração.
E então, Madá, você quer uma resposta eu presumo. Já imagino seus grandes olhos devoradores de alma, procurando uma resposta enquanto as linhas acabam, suas mãos bonitinhas com seu dedinho torto, quase amassando esse papel de raiva de mim, porque você quer uma resposta.
Mas, Madá, eu não sei.
Ah, Madá, o mar é um imprevisto.
Amar não é previsto.
Cuide-se, Pequena Sereia..."